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O Stress no Processo de Ensino e Aprendizagem

Estratégias para uma Aprendizagem com Sucesso, Número 1, Volume 1

 

Doutora Anabela Pereira
 

Compreender e Lidar com o Stress

A dislexia de desenvolvimento é uma dificuldade específica de aprendizagem da leitura e escrita, que condiciona a forma como o indivíduo se percepciona e como se relaciona com os seus pares, nos mais diversos contextos, desde educacionais até familiares. De acordo com a Federação Mundial de Neurologia (1968), a dislexia é uma perturbação que se manifesta através de dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita, a despeito de instrução convencional, inteligência adequada e oportunidades socio-económicas.

O termo stress tem vindo a ser bastante utilizado no vocabulário corrente, servindo para englobar as mais variadas situações e sentimentos. Etimologicamente, a palavra stress deriva do latim stringere, que significa apertar, comprimir ou restringir.

Um dos investigadores pioneiros do stress, Selye, refere-se a este fenómeno enquanto uma resposta não específica do organismo a qualquer tentativa de alteração ao seu equilíbrio. No fundo, o stress traduz uma reacção de desequilíbrio entre as exigências ambientais e os recursos de que dispomos.

Habitualmente conotado como algo negativo (distress), o stress pode também ser um fenómeno positivo (eustress) que potencia a activação do indivíduo. De facto, não é possível viver na ausência total de stress, já que tal situação inviabilizaria uma resposta do nosso organismo às exigências do quotidiano.

Como, então, identificar o stress que interfere com a sua saúde e bem-estar? A resposta a esta questão reside nas manifestações ou reacções (sintomas) que determinadas situações nos provocam, quer a nível fisiológico, como a tão comum dor de barriga, taquicardia, ou vontade de urinar que surge quando se sente tenso ou ansioso; quer a nível cognitivo, designando tudo o que nos vem à cabeça quando nos sentimos pressionados, como “não vou conseguir!” ou “os outros são melhores do que eu”; quer ainda a nível comportamental, como fumar e beber, roer unhas entre outros. Este conjunto de sintomas interfere na qualidade de vida, com repercussões ao nível da saúde física e mental, podendo levar à doença e, em casos muito extremos, à morte.

Na perspectiva da Psicologia da Saúde, a doença é vista como uma interacção complexa de factores psicológicos e fisiológicos A título de exemplo, e relacionando stresse e doença, poderemos dizer que este pode implicar desordens psicofisiológicas que consistem em alterações fisiológicas – sintomas físicos ou doença – resultantes da interacção de processos psicológicos e fisiológicos, das quais podemos salientar úlceras e doenças inflamatórias, diabetes mellitus, asma, dores de cabeça crónicas/migraine, formações cancerosas em algumas doenças auto-imunes, alergias e doenças da pele.

Não queremos ser alarmistas mas sim sensibilizar o indivíduo para que ele próprio crie estratégias para identificar e lidar adequadamente com o stress evitando a situação de mal-estar e doença. 

Uma vez identificado o problema, há que saber lidar com ele. Os mecanismos que utilizamos para lidar com situações difíceis são designados estratégias ou mecanismos de coping os quaiscompreendem os esforços cognitivos e comportamentais exigidos para lidar com situações internas ou externas que testam ou sobrecarregam os recursos do indivíduo e que podem ser percepcionadas como ameaça, dano ou desafio. Os mecanismos para lidar com o stress podem, assim, residir na regulação dos pensamentos e comportamentos (coping centrado na emoção), na modificação ou alteração da relação do indivíduo com o ambiente, através de esforços para lidar com as situações indutoras de stress (coping centrado no problema), no exercício e manutenção do relacionamento social em situações de stress (coping centrado na interacção social) ou na utilização de estratégias para lidar com os significados das situações (coping centrado nos significados). As estratégias de coping são pessoais e resultam do percurso de socialização e aprendizagem de cada indivíduo, salientando-se a necessidade de se desenvolverem estratégias pró-activas (antecipatórias aos problemas), centradas na promoção de emoções positivas (optimismo). A maneira como lidamos com o stress é que nos dá a percepção de ter sucesso ou não.
 

Stress do professor

O contexto de ensino e de aprendizagem é particularmente vulnerável à incidência de níveis elevados de stress e ansiedade. Sylwester nos finais dos anos setenta definiu o stress como o pior problema de saúde com que os professores se debatem, enquanto Dortu, em finais dos anos noventa apontou o stress como o grande inimigo do aluno.

Os organismos internacionais já reconhecem o stress como uma “enfermidade profissional”, cujos efeitos atingem inclusive o ambiente escolar. A carreira docente é segundo as organizações internacionais do trabalho uma profissão de risco físico e mental, por possuir elevados indicadores de stress, provenientes da complexidade que envolve sua prática, a qual tem merecido particular atenção dos especialistas, quer sob uma perspectiva psicológica ou pedagógica ou mesmo sob uma perspectiva sociológica. O stress ocupacional do professor refere-se a uma síndrome de respostas e sentimentos negativos, que são geralmente acompanhados de mudanças fisiológicas e bioquímicas, potencialmente patogénicas, que resultam de aspectos do trabalho do professor, que são medidas pela percepção de que as exigências profissionais constituem uma ameaça à sua realização enquanto professor e à sua auto-estima ou bem-estar.

O stress é uma das maiores fontes de mal-estar docente e na maioria das vezes acarreta também desinvestimento na profissão, insatisfação, desresponsabilização, desejo de abandonar a docência, absentismo, esgotamento, ansiedade, depressão entre outros tipos de doença.

As pressões que os profissionais de educação são submetidos (excesso de trabalho, indisciplina de alunos, crianças com dificuldades de aprendizagem, crianças com necessidades educativas especiais) associadas, à desvalorização do estatuto da carreira docente levam muitas vezes ao mal estar docente podendo mesmo em casos mais extremos levar ao tão conhecido fenónemo de “burnout” caracterizado como exaustão ou esgotamento resultantes dos indivíduos trabalharem excessos e exigirem muito a eles próprios. 

Em contextos de educação o importante é importante compreendermos que o stress faz parte do nosso dia a dia. Aliás o stress é necessário desde que em doses moderadas. 

Pode-se ilustrar esta ideia recorrendo à curva de Gauss (U invertido) e usada na explicação da lei de Yerkes-Dodson, que traduz a relação entre o nível de stresse e o nível de desempenho, indicando que a um nível baixo ou alto de stresse corresponde um fraco desempenho, enquanto, com níveis de stresse moderados, é possível atingir bons desempenhos. O importante é conseguirmos o equilíbrio do desempenho das nossas tarefas, dificultadas muitas vezes pelo excesso de trabalho e a redução de recursos profissionais que impedem a nossa realização. Definir prioridades e objectivos realistas aceitarmos as nossas limitações pessoais e profissionais em particular as da docência poderão ser um meio de controlarmos a nossa vida e o nosso desempenho profissional. 

Em síntese diremos que as características de personalidade associadas à percepção de que o indivíduo não tem recursos suficientes para lidar com o problema e levam a que um indivíduo fique em stresse por considerar que o seu grau de exigência é superior às suas capacidades. O importante é que o indivíduo desenvolva estratégias que lhe permitam lidar melhor com as adversidades da vida e em particular com as adversidades da profissão. 
 

Alguns tópicos úteis a não esquecer

  • Cuide de si, da sua saúde mental e física

  • Identifique os seus sintomas de stress

  • Use mecanismos de coping adequados, dos quais salientamos alguns exemplos: 

    • mudar os pensamentos automáticos negativos por outros mais construtivos e positivos;

    • procura de informação profissional

    • recorrer aos amigos e outro tipo suporte social

  • Aprenda a gerir melhor o seu tempo orientado para a concretização de objectivos

  • Definia os seus objectivos pessoais e profissionais especificando as suas prioridades e actue em conformidade

  • Saiba construir uma agenda pessoal equilibrada (com trabalho e lazer)

  • Faça exercício físico, actividades ao ar livre entre outros

  • Use técnicas de relaxamento físico quer mental

  • Mude o seu comportamento para estilos de vida mais saudável

 

 

Alguns sites úteis

http://www.stress.org

http://www.talkaboutstress.com

http://www.helpguide.org/

http://www.portaldasaude.pt/

http://www.mindtools.com/pages/main/newMN_HTE.htm

http://www.time-management-guide.com

 

Anabela Sousa Pereira, docente do Departamento de Ciências da Educação, da Universidade de Aveiro, apresenta uma vasta experiência como investigadora na área da Psicologia da Saúde, Educação para a Saúde, Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, com vários trabalhos publicados. Tem vindo a investigar ao longo dos anos temáticas relacionadas com os problemas dos alunos do ensino superior, nas quais se destacam o stress em contexto académico, a ansiedade aos exames, a depressão, problemas de desenvolvimento pessoal e outras problemáticas referentes à saúde mental do jovem e que poderão interferir no sucesso escolar.

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